quinta-feira, 14 de agosto de 2008

QUEM FOI O QUE MORREU II

Depois de D.Inês de Castro ser assassinada a mando de D.Afonso IV, pai de D.Pedro, este, não voltou a casar, mas teve várias "amigas", sendo uma delas, Teresa Lourenço, chamada a "galega", vá-se lá saber porquê, já que seu pai, Lourenço Martins, era um mercador Lisboeta...

Seja como for, dessa relação, nasceu um menino, a que deram o nome de João e que foi entregue a seu avô materno, para que fosse educado como cavaleiro.

Quando João tinha 7 anos, estava então entregue a D.Nuno Freire de Andrade, cavaleiro da ordem de Cristo, encontrava-se às portas da morte D.Martim de Avelar, Mestre de Avis.

D. Nuno, pegou então no menino e foi a correr à Chamusca, onde se encontrava D.Pedro, a quem pediu que o cargo deixado vago, fosse dado ao menino João, ao que D.Pedro, muito rapidamente acedeu e estando João ao colo de D.Nuno, foi logo ali tornado Cavaleiro, abençoado com as seguintes palavras: "Que Deus lhe acrescente de bem em melhor e lhe dê tanta honra em feitos de cavalaria, como deu a seus avós"

A D. Nuno, D.Pedro terá contado um sonho que tinha tido algum tempo antes, em que via o seu Joãozinho a salvar o reino...

Quando D.Pedro morreu, o seu meio irmão, Fernando, subiu ao trono.

D.Fernando, tinha combinado casar com Leonor de Aragão, mas deu de caras de repente com Leonor Teles e ficou loucamente apaixonado. Ora Leonor Teles era casada e tinha um filho, mas como rei pode, servindo-se do facto de que existia um grau de parentesco entre o casal, conseguiu que o casamento fosse anulado e secretamente casou com ela, explicando depois ao ex-futuro sogro, que afinal já não casava com a sua filha, que por sinal era feia como os trovões, porque já era casado...

O pessoal da altura não ficou nada contente, pois um rei devia casar com a filha de outro rei e não com uma fulana qualquer...

Para piorar as coisas, o problema da sucessão! Nada de varão! Uma miúda...com casamento marcado com o herdeiro de nuestros hermanos e já toda a gente a pensar: "Bamos hablar español!"

Entretanto, o mano Fernando, era muito amigo do meio-mano João, mas por outro lado, a Nonô, era muito amiga dos hermanos e já começava a ver umas certas ameaças ao lugar da filhota... pois achava e com razão, que ninguém tinha ficado lá muito contente com aquele contrato de casamento que dava assim de mão beijada o trono Português aos espanhóis! Como o Nandinho era assim a modos que doido por ela, começou a "envenenar" o marido e conseguiu que a certa altura o tonto acreditasse que o Joãozinho conspirava contra ele acabando o Fernando por mandar o mano para os calabouços.

Por outro lado, a irmã de Leonor, Maria, tinha casado com o outro irmão de Fernando, o outro João, Infante. Já a pensar que o cunhado poderia vir a ficar com o trono, mandou a mana para os anjinhos e o cunhado, exilado para Espanha, onde viria a lutar contra Portugal posteriormente o que o afastou de vez da corrida ao trono...o povo não perdoa...

Entretanto a D. Leonor e o "amiguinho" João Fernandez, chegaram ao ponto de forjar uma ordem para que o mestre de Avis fosse executado... Acontece que o chefe lá do sítio achou aquilo muito estranho e lembrou-se de confirmar a ordem e claro que o Fernando mandou logo soltar o irmão, mas não consegui ler em lado algum se deu ou não uns bons açoites na sua querida esposa... O que a certa altura descobriu, é que a sua bela dama, andava "enrolada" com o seu conselheiro, o João Fernandez, o conde de Andeiro e lembrou-se de escrever uma carta ao mano João, para que tratasse da saúde ao conde, mas, teve a infeliz ideia de escolher para mensageiro, um fulano que por acaso, era compincha do João Fernandez e que com toda a esperteza saloia lhe fez ver que se estava a precipitar e a dar poder a mais ao mano... D. Fernando acabou por rasgar a carta e ficou tudo em águas de bacalhau...

Como palavra de rei é lei, a coisa estava preta, pois o D.Fernando finou-se e a Nonô tornou-se regente em nome da filha, com o "caramelo" ao lado e as pessoas falavam, daquela pouca vergonha e então, alguém se lembrou de chamar à razão o irmão da dama, o conde de Barcelos, para lhe dizer que tinha que acabar com aquilo de vez, que a mana era mal falada na corte, etc, etc. Claro que o João Teles, o conde quis logo limpar o sarampo ao João Fernandez, mas Álvaro Pais, pensando mais além, achou melhor falar primeiro com João, o mestre de Avis, pois melhor que limpar a honra da Leonorzinha, era vingar a honra do mano Fernando e com o apoio da populaça e a ajuda do jovem Nuno Álvares, que adoravam o Mestre, era o único que conseguiria "apagar" o galego e safar-se...

Organizaram a coisa muito bem e o resto já se sabe como aconteceu; entraram nos aposentos da senhora, onde estavam o João Fernandez, alguns fidalgos que já tinham sido sondados e que se retiraram estrategicamente. O Andeiro, por via das dúvidas mandou os seus homens irem buscar as armas e voltarem, acabando por ficar sozinho com o grupo do Mestre de Avis, que com a desculpa que lhe queria falar em privado o levou para outra sala, com 3 dos seus amigos e aí...foi-se de vez o conde de Andeiro...

Claro que a boa da Leonor depois de carpir o morto pediu para zarpar para longe já que não a matavam e partiu, mas a primeira coisa que fez assim que pôde, foi mandar vir o genro, ai ai ai que te tiram o trono!

Não contavam os espanhóis, que iam apanhar pela frente o Nuno Álvares que depois de algum tempo acabou de vez com eles em Aljubarrota, mostrando que os Tugas quando querem...

O João lá foi aclamado rei nas cortes de Coimbra, casou, com D.Filipa de Lencastre, para confirmar a aliança com os Ingleses, teve filhos e que filhos! Foi o papá da "inclita geração", mas isso são outras águas...

Depois de um reinado de 48 anos, acabou por morrer, em 14 de Agosto de 1433

Fonte:Crónicas de Fernão Lopes

8 comentários :

Isamar disse...

Estás a gostar muito de História, ó Lagartinha!E contas de uma forma muito especial quem foi o que morreu! E já lá vão dois.
Gostei muito.

Bjinhos

lagartinha disse...

Adoro História de Portugal! Nota-se?
É assim a modos que um tributo à Professora Otília, a minha GRANDE PROFESSORA DE HISTÓRIA DE PORTUGAL, que leccionou no Externato Alfa, que me disse um dia:"Tenhas a idade que tiveres, lê tudo o que puderes sobre os homens que governaram os teus avós e terás uma visão diferente da vida". O certo é que desde que me disse isto, sigo o seu conselho...Cresci, como diz o meu filho, bué!
Ainda bem que gostou.
Beijinho grande

Jorge P. Guedes disse...

LAGARTINHA:

Externato Alfa? em Lisboa, perto do Largo do Rato?
É que eu fui professor durante uns cinco anos no Externato Apolo, pertinho desse Alfa de que falo! será o mesmo? Estou curioso.

Quanto à historieta, acho que o meu antigo companheiro José Eduardo Moniz, na época um jovem jornalista do diário Popular vindo dos Açores, vai aproveitar o argumento para substituir uma das telenovelas da TVI.
Bem apanhado relato, sim senhora!

AH! Aproveito para dar Vivas ao Sporting! Bela forma, já!

Um abraço.

lagartinha disse...

Externato Alfa, perto do Apolo, sim senhor! Grande escola, grandes professores, grandes amigos...principalmente a Stôra Otília, que era apenas 2 anos mais velha que eu...e já tinha taaaantos cursos!
Quanto à novela, só se o conde de Andeiro fosse interpretado pelo Joaquim de Almeida...
O Sporting foi ou não foi o máior?
Um abraço verdusco

o escriba disse...

Ana Lagartinha

Este relato é o que eu chamo as histórias da História! Bem apanhado e bem relatado!


bjs
Esperança

lagartinha disse...

Olá Esperança
Ainda bem que gostou, pois a mim, tem-me dado muito prazer voltar a mergulhar no passado grandioso deste pequeno grade País...
Um beijiho

Esoj disse...

O que me parece ser verdade é que naquele tempo havia reais bastardos em barda.

lagartinha disse...

esoj
É um facto...real!